sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Série Rabiscos Noturnos

6. Título ao final.

Já havia me esquecido, afinal, há quanto tempo, ¿pois é, quanto tempo¿. Não sei bem por onde começar, me falta à mente - por ocupação com coisas bestas - algo que me faça prosseguir, mas ainda aqui insisto, como quem não quer nada, sabendo que ninguém quer nada, o que já é alguma coisa, coisa pouca que seja, mais que nada é. Não sei bem por onde começar, talvez deva ficar tranqüilo, mesmo que o sono não venha - destruí a noite estendendo meus sonhos além o meio dia. Ainda não sei se vale à pena de estar aqui, acordado, sem palavras, sem nada, sozinho no cerrado, ouvindo músicas que não sei a letra ou mesmo sem melodia, perpetrando o silêncio que alguns dias me invade. Em certos momentos me perco, não sei se comigo falo ou se só escuto a voz do meu pensamento, afinal, acredito eu, pensamos no mesmo tom que falamos, e sendo assim, até o silêncio diz alguma coisa, só para contrariar o próprio silêncio.
Uma pausa para o café.
Até a chuva têm seus por quês, quisera eu ter os meus. Digo e é por pouco, que algum sentido deve haver nas águas que ao princípio da noite caíram, brutas, como quem diz: olha-me! Olhei-a e mal disse seus transtornos, ilhado em um lugar fora daqui, mas com a sorte de um livro para passar o tempo. A chuva, ela têm seus por quês, poderia muito bem cair agora, quando todos dormem, ou pouco antes, quando todos deitam, mas não, goza do fruto de sua liberdade, age como bem entende sem que entendamos o que pretende. Diria eu que hoje - talvez esteja mais atento a ela que de costume ¿ ela quis descer as sarjetas, ao asfalto, ao teto das árvores, telhados, gramados, enfim, estar na terra para ver o firmamento. Besta não? Soubessem a noite que agora faz daria razão a ela. Acabasse agora a luz da cidade como no momento em que eu lavava a cabeça enquanto ela caia. Não, melhor não, perderia o que aqui escrevo, ficaria puto, me conheço.
É, a chuva têm suas razões, e me assusta pensar em como é minuciosa a ponto de pensá-la como ser vivo e não só como fonte da vida. Teria a chuva em surdina tramado contra mim (ou ao meu favor, visto o que se passa agora). Cautelosa, na espera da minha nova trilha sonora ¿ pois é, logo hoje meu player toca algo que até então ambos desconhecíamos ¿ invoca um desses momentos ao qual denominamos único. Sim, sim, único, ínfimo, integro e fugaz, como a fumaça de um cigarro ou a queima de um incenso (há quem dirá que o aroma seja igual, mas, veja bem, cada fumaça tem o dom de ser única).
Chuva, como pode, ser sempre a primeira em muitas? Como poderei agora olhar para ti sem pensar nos seus motivos, sem torná-los meus, somente meus.
Agora chuva, na embriagues da minha memória que só os dias passando causam, lembro-me da última vez que nos encontramos. Em outro lugar, longe daqui, me avisava em imprevisto durante minha caminhada, que as noites quando queres são assim, únicas e com estrelas, afinal, quem diria que por de trás daquela cortina e daquela cortina (sim, duas) haveriam estrelas. Sabias tu do meu calor e do meu gesto em busca de aliviá-lo? Sabias? Penso que sim, e torno com menor espanto a pensá-la viva.
Quantas coisas se passam sem que tomemos conhecimento delas, nossa... quantas coisas. Talvez seja isso que queira me dizer ao despejar sobre mim seus milhões de dedos, e foram milhões nesses dias todos. Tão ¿perdido¿ que nem reparei, e só agora, nós dois em terra conversamos, novamente, a olhar o firmamento em silêncio.

Sobre a chuva
Sob o firmamento


Sexta-feira, Dezembro 29, 2006, 4:07AM

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